segunda-feira, 1 de agosto de 2011

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A indústria é também parte dos seus problemas

O desempenho da indústria no primeiro trimestre foi apresentado em dois relatórios: o da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que retrata todo o País, e o da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ambos lamentam que o crescimento da produção foi inferior ao do primeiro trimestre do ano passado, esquecendo que aquele período se seguia a um forte recuo da economia e que, neste ano, o carnaval caiu em março. Na realidade a queixa não procede, a não ser pelo fato de que se previa uma demanda maior do que a que está ocorrendo.

A estagnação da Utilização da Capacidade Instalada precisa ser interpretada com cuidado, pois, de fato, pode decorrer tanto de um recuo da demanda quanto de um excesso de investimentos, em razão das facilidades de crédito e de uma taxa cambial altamente convidativa. Se a demanda no varejo acusa um ligeiro declínio neste início de ano, é por causa do excessivo endividamento do consumidor no final do ano passado, e não em razão de uma queda do poder aquisitivo que os dados sobre o emprego e sobre a folha de pagamentos estão desmentindo.

Os fatores principais do arrefecimento da atividade industrial estão no aumento das importações e na queda das exportações de produtos manufaturados, intimamente vinculados à valorização da moeda nacional em relação ao dólar, que se desvaloriza. Mas a queixa maior da indústria continua sendo sobre a elevada carga tributária. Queixa altamente justificada e que exigiria maior mobilização do setor em favor de uma reforma em que a capacidade de concorrência dos produtos brasileiros entrasse como a maior preocupação.

A “concorrência acirrada de mercado” ocupa o segundo lugar nos problemas enfrentados pela indústria. Na realidade, o concorrente se encontra no exterior e seu nome é a importação. A pergunta que deve ser feita é se a indústria nacional não abusou com muita desenvoltura dessas importações que revelam participação não desprezível de componentes estrangeiros, que permitem baixar os preços dos produtos acabados ou aumentar a margem de lucros da indústria.

Caberia às entidades de classe do setor analisar a possibilidade de unir diversas empresas para produzir em série esses componentes e para realizar pesquisas tecnológicas que igualem os preços do exterior, deduzido o custo do transporte e de tarifas aduaneiras. A falta de trabalhador qualificado é um problema que só a educação pode resolver. A taxa de juros é realmente elevada (exceto para investimentos), mas a indústria tem sua participação na inflação que ela reflete.

Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, 29 de Abril de 2011, B2.


Comentário:

Os problemas mostrados no texto acima afetam diretamente as condições profissionais dos engenheiros industriais (tecnologia). Têm sido muito ventilado na imprensa a questão da desindustrialização, causada por juros elevados, carga tributária alta, falta de qualificação dos trabalhadores, todos problemas que os brasileiros tem que resolver para evitar ou impedir que a concorrência das industrias de outros países vençam a competição no mercado interno brasileiro. Alguns problemas podem ser atacados pela ação dos engenheiros, sejam de tecnologia, sejam de infra-estrutura para redução do custo na logística de transporte (nesse caso engenheiros civis, nos outros engenheiros industriais e de ação política para questão dos juros e da carga tributária).

A redução da carga tributária é muito reivindicada através de reforma tributária. Porém, é preciso ficar claro que tal carga só poderá ser reduzida mediante a redução do custo dos governos. Assim a diminuição da carga decorrerá de reformas estruturais que dê mais racionalidade à burocracia e eficiência gerencial. Para tanto, os governos é que tem de ter seu custo diminuído.

Todos são problemas para os brasileiros, no entanto afetam diretamente os engenheiros, que ficam sujeitos à instabilidade do mercado e das políticas econômicas que afetam suas vidas e de suas famílias diretamente. O fortalecimento da indústria brasileira na competição com as estrangeiras contribuirá para amenizar ou eliminar a instabilidade mencionada. 

Um comentário:

  1. Caros amigos. Sou engenheiro industrial metalurgista. O engenheiro da indústria sempre esteve isolado, e sozinho não tem voz. A voz poderia ser a do CREA, mas sempre se calou. Está na hora de mudar.

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