quarta-feira, 5 de outubro de 2011

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A crise, ainda.


Na verdade a crise de 2008 já dura quatro anos. E não dá sinais de ser superada, tão pouco o horizonte no qual ocorrerá a superação. O fato é que suas consequencias modificam hábitos, procedimentos e mesmo conceitos.

Em artigo da Revista Bem Comum sob título “Crise é oportunidade” de out/2008 expuz minha interpretação das causas da crise de 2008: consumismo, endividamento público dos países ocidentais, e acrescento agora o exercício da democracia.

O instrumento de poder dos governos tem sido ultimamente a publicidade de que estão certos, para estimular o consumismo. Nessa linha a população sente-se satisfeita pelo acesso aos bens e conforto, as empresas percebem crescer o mercado que lhes dará aumento de faturamento e lucro, os governos veem crescer a arrecadação – corrente da felicidade. Corre em paralelo um ingrediente parece que pouco percebido: endividamento dos governos, das famílias, menos das empresas que se socorrem de aumento de preços como ocorre claramente no Brasil, comparado com países desenvolvidos.

O recurso do consumismo demonstra a incapacidade dos governos ter planos e implementá-los. O consumismo mobiliza a sociedade no caminho da satisfação, sem custo para os governos, cujo instrumento são o interesse empresarial.

Ocorre que os governos, mesmo com crescimento de arrecadação, não conseguem pagar seus gastos sem socorrer-se do endividamento público. E todos os governos devem muito.

O Brasil pagou em 2010 R$ 129 bilhões de juros da dívida pública. Esse recurso de endividamento não é um mal em si, porém seu uso indevido e/ou em excesso leva a desequilíbrio das contas públicas e a instabilidade institucional.

Esse é o sintoma da situação financeira da Europa e EUA.

É simples, sem ser simplista, não se pode ter despesa maior que receita. As famílias e as empresas estão sujeitas a controles automátios, na justiça, nos cartórios de protestos, Serasa e tantos outros atores. Os governos é que estão soltos, pela democracia. Esse é o ponto sobre o qual os holofotes das sociedades de todos os países devem focar. Compatibilizar o longo prazo de que precisam as empresas com os prazos curtos dos mandatos eleitorais essenciais na democracia.

É preciso retirar das disputas eleitorais os gastos públicos que geram endividamento público.

O mal não está nessa modalidade de endividamento, mas está na decisão ainda não sinalizada pelos governos de combater a dívida a longo prazo, estabelecer limites para o endividamento.

O crescimento econômico, a riqueza individual média, depende da qualidade e da estabilidade das instituições públicas, em especial das que se ocupam das finanças públicas. Desde 2008 os governos insistem em praticar intervenções monetárias, fiscais e sociais, quando deveriam voltar-se para a construção do equilíbrio financeiro público que contribua para a estabilidade sadia de investimentos para o melhor aproveitamento do aparelho empresarial, o sistema produtivo. Essa postura dos governos já transmitiria para as famílias, a sociedade, o necessário comedimento nas dívidas.

As causas da crise precisam rapidamente ser compreendidas para que os governos tenham coragem de tomar as medidas institucionais para retirar das disputas eleitorais os gastos públicos causadores do endividamento dos governos e da instabilidade das instituições, mantidas as condições de regime democrático.

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